terça-feira, 24 de julho de 2012

Perguntas dos Leitores - Parte I

Conforme mencionado no blog, a partir de agora estou disponível para responder as perguntas enviadas pelos leitores. Chegada a primeira leva, é chegado o momento de inaugurar essa nova parte do site:

"Boa tarde VR,

Acompanho seu blog a algum tempo, queria saber quais os criterios que você utiliza para investir em FII, hoje minha carteira é composta apenas por FII e Renda Fixa (Tesouro), tinha ações mais não me dei bem com elas até porque com o capital que eu tenho não consigo diversificar e os ETFs não me agrada então decidi pelos FII que estão gerando uma rentabilidade excelente.


Desde já obrigado e parabéns pelo seu trabalho."


Conforme descrevi muito brevemente na página do meu portfólio, antes de tudo eu excluo alguns tipos de FIIs: Não invisto mais em imóvies built to suit, nem que investem majoritariamente em CRIs nem em fundos de fundos. Ao contrário de alguns investidores, não tenho nada contra FIIs de locatário único como é o caso de MBRF11. No mais, sigo o padrão: dou uma analisada rápidas em dezenas de FIIs e vejo os que possuem maiores yields e se esses yields são consistentes e não são gerados por garantia de rentabilidade. A tabela elaborada pelo grande colega Tetzner é de grande valia nessa análise rápida. Só cuidado que boa parte da rentabilidade dos FIIs se deu às custas da queda do yield, em caso de aumento da Selic é bem provável de termos vários meses negativos.


"Boa noite Viver de Renda, cara tu que é um defensor do modelo do Fama & French, utilizar o P/VP e etc, na ultima postagem que fizeram nesse blog http://holdinggodfather.blogspot.com.br/ o pessoal detonou a utilização do P/VP, gostaria de saber teus argumentos lah, seria bem interessante ver o que ela (a Fernanda) acha dos teus argumentos, também gosto muito do modelo do fama & french, abraços, que bom que o seu blog voltou, sou um frequentador assíduo !" 
- Pergunta moderada e adaptada

Bem, eu não vi o pessoal detonando P/VPA, o próprio autor do blog defende usando como argumento inclusive um estudo aqui no Brasil realizado aos moldes do F&F e encontrou um prêmio de valor bem altor (~0.6% ao mês, salvo engano). A Fernanda apresenta os argumentos dela sem qualquer tipo de fundamentação (até porque ela estava apenas comentando), mas desde já o que ela fala vai contra praticamente toda a literatura que existe no mundo sobre o assunto. O poder explicativo do P/VPA do retorno das ações é bem significativo e possui alta correlação com outros indicadores fundamentalistas conforme mencionado por Fernanda (como C/P, P/E, etc.), sendo escolhido o P/VPA apenas por ser um indicador mais estável e portanto gerar menos turnover.

"Caro,

1. Gostaria de saber sua opnião, se você tiver alguma,  sobre uma metodologia (ativa) de negociaçao denominada TrendFollowing (sistemas seguidores de tendencias). Tenho estudado a respeito, principalmente nos livros de Michael Covel. Pelo que li no seu blog vc não é adepto da negociaçao ativa nos mercados (trading), mas me chama atenção a rentabilidade de alguns fundos que utilizam o TF para gerir seus recursos.
2. Haveria alguma prova de que manter o dinheiro investido em renda variável sem preocupaçoes com a volatilidade é mais lucrativo do que uma atitude mais ativa, como por exemplo com a utilizaçao da análise tecnica?
3. A noção de independencia financeira é muito subjetiva para mim, qual seria a sua definição?"

Engraçado que antes de eu começar a estudar sobre fundos passivos, indexação, etc., lia bastante sobre trend following, sonhava em comprar um sistema de $1000,00 que vendiam, sendo que meu patrimônio era de uns R$2-3k.

Tem muito tempo que eu li a respeito então eu não posso dizer ao certo se a base do mesmo é sólida, mas o retorno consistente dos Turtle Traders é algo sem sombra de dúvidas surpreendente usado um sistema simples de médias móveis. Teoricamente parece que eles se aproveitam do fator "momentum" que ao menos em ações comprovadamente existem. O problema é que eles precisam de um mercado de commodities bem desenvolvido pra surfar nas tendências, além de constantemente operarem vendidos. Tenho um conhecimento puramente teórico de operar vendido, mas pelo que li envolvem custos bem significativos, a meu ver grandes o suficiente para invalidarem a estratégia aqui no Brasil.

Quanto à segunda pergunta, existem dezenas de estudos comprovando a ineficácia da gestão ativa de um portfólio, tem numerosos textos de John Bogle e Rick Ferri a respeito. O próprio Buffett recomenda fundos indexados para investidores individuais. A argumentação mais básica desenvolvida por William Sharpe é que na média as pessoas tem o retorno do mercado e uma gestão ativa forçadamente na média terá um retorno menor por conta do maior turnover. É exatamente o que vemos na prática.

Pra mim independência financeira pode definida como a pessoa que é sustentada exclusivamente por seu portfólio e/ou aposentadoria pública/privada.

"Boa tarde!


Meu nome é XXXXX, tenho 19 anos e encontrei seu blog Viver de Renda enquanto fazia uma pesquisa na internet, acho o blog muito interessante e ultimamente tenho começado a me interessar por essa área de finanças pessoais. 


É um assunto muito importante mas que a maioria das pessoas não se interessa muito, li alguns artigos do seu blog e também gostaria de começar a trilhar meu caminho em busca da independencia financeira, acho que está na hora certa pra começar mas não tenho conhecimento nenhum e queria saber se você pode me ajudar a começar, levando em consideração que a maioria dos jovens como eu não possuem uma renda alta pra investir, pois muitos são universitários e as fontes de renda geralmente são estágios, empregos de meio período ou freelas.



Desde já agradeço."


Olá meu caro. Minha sincera recomendação é que você concentre seus esforços em aumentar a sua receita, seja estudando, empreendendo ou trabalhando mais para que possa manter seus aportes elevados. Um aumento de R$300,00 no seu salário é igual a uma rentabilidade 1% maior em um portfólio de quase R$400.000,00, portanto principalmente no início da jornada os aportes são muito mais importantes.

Como você é jovem, pode muito bem começar investindo em ações, um jeito prático (porém caro) de se investir é comprando fundos que investem em PIBB, acho que todo banco oferece e cobram 1,5% ao ano pra isso. Eu comecei a investir em ações assim em 2008 e depois migrei para uma corretora após acumular um valor razoável (R$10-15k).

Mandem mais perguntas que terei prazer em respondê-las! Muito legal a interação do pessoal!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

As múltiplas dimensões do risco

Taí um tema absolutamente central e ao mesmo tempo muito incompreendido pelos investidores: RISCO. De todas as definições que eu já vi sobre o tema, a melhor foi a de, salvo engano, William Bernstein: "Risco é a possibilidade de você não ter o dinheiro quando se precisa dele".

Essa definição é interessante pois abrange duas dimensões do risco que a meu ver funcionam como uma gangorra:

  1. O risco de quando você precisar do investimento o mesmo ter desvalorizado significativamente
  2. O risco de você não ter o dinheiro necessário pela baixa rentabilidade do investimento. 
Vejam que se um investimento tem pouco risco de se desvalorizar ele quase sempre tem um risco maior de não te dar a rentabilidade necessária e vice-versa.
Seriam os FIIs a "gangorra" em estado de equilíbrio?


A visão das dimensões do risco esclarece muitas situações e permite deduzirmos ações em tantas outras. Por exemplo, uma pessoa muito rica por dedução deve quase que forçadamente ter uma baixa posição em ações, pois a baixa rentabilidade não é um fator de risco para ela já que a mesma possui o dinheiro necessário para suprir suas necessidades. Outra dedução é que a própria renda fixa pode ser muito arriscada para aqueles que necessitam de uma alta taxa de retorno para o seu portfólio.

Além das dimensões do risco dos ativos, existem as dimensões do risco do investidor,  uma trindade que abrangem os seguintes aspectos: 
  1. A necessidade de se correr o risco
  2. A possibilidade de se correr o risco
  3. A vontade de se correr o risco 
A necessidade de se correr o risco pode ocorrer por exemplo em um portfolio de um aposentado que não tem um montante suficiente para sustentar seu padrão de vida, sendo necessário investir em ativos com maior expectativa de retorno mas com mais chance de ter seu montante reduzido no momento mais necessário.

Um investidor que trabalha numa empresa a beira da falência e sem nenhum tipo de colchão de segurança não tem muitas possibilidades de investir em ações. Da mesma forma alguém que precise a todo custo de um montante elevado em um determinado período não possui o "luxo" de investir em ativos de baixa rentabilidade.

Por fim, há o bom e velho critério psicológico: de nada adianta o investidor aplicar tudo em ações e não conseguir dormir ou investir tudo em FIIs e sonhar que a bolha vai estourar em cheio no seu portfolio.

Muitos podem imaginar "Caramba, mas que viagem do VR esse monte de texto teórico e abstrato não tem aplicação prática nenhuma!". A meu ver sem esse conhecimento prévio da(s) verdadeira(s) natureza(s) do risco é impossível ao investidor fazer corretamente sua alocação de ativos. No meu caso, em Janeiro percebi que, apesar da minha vontade e possibilidade de correr risco de volatilidade serem altas, a minha necessidade de correr risco diminuiu, o que implicou na gradual diminuição do portfólio de ações de 70% para 33%. A necessidade de "jogar" vai diminuindo na exata medida em que você percebe que está ganhando o jogo. Em "economês", a utilidade marginal da riqueza decrescente diminui o risco da baixa rentabilidade de um portfólio.

Até porque a expectativa de retorno é mera expectativa...

A verdade, no entanto, é que investimento é tanto ciência como arte. Não existe uma resposta objetiva em muitos casos, já que todo investimento deve se adequar às dimensões do risco de cada um. É fundamental ao investidor avaliar a sua necessidade, vontade e possibilidade de correr o risco tanto de volatilidade quanto de menor rentabilidade.

sábado, 14 de julho de 2012

Vamos falar de Renda Fixa - Parte I - Riscos

Como vocês bem sabem, com o aumento dos meus aportes a minha necessidade de retorno do portfólio diminuiu, sendo prudente, portanto, gerar uma maior redução na variância mediante a inclusão da boa e velha renda fixa.

Numa mega ultra rápida introdução, a renda fixa nada mais é do que uma classe de investimentos cujo retorno possui suas regras definidas no momento da aplicação, sendo quase sempre a compra de uma dívida de terceiro (não raro vemos em publicações estrangeiras mencionarem a renda fixa simplesmente como debt).

De acordo com o modelo de 5 fatores de risco de Fama-French, há dois fatores de risco para a renda fixa: term/duration/interest rate risk (risco de termo/duração/taxa de juros) e default/credit risk (risco de calote/crédito)

RISCO DE TAXA DE JUROS:


O risco da taxa de juros nada mais é do que o risco que o investidor tem de, quanto maior for o prazo do título, maior é a possibilidade dele ser atingido por variações na taxa de juros e/ou inflação.

Vejamos como andam as taxas de juros no TD hoje:


Por que o investidor se satisfaz em obter 8,35% a.a. sendo que o mesmo título vencendo um ano depois paga 8,89%? Por conta do risco da taxa de juros. A mudança de 1% na taxa de juros equivale na variação de 1% por ano de duração do título. Trocando em miúdos, se a taxa cai 1% no título com vencimento em 20 anos isso significa uma valorização/desvalorização de ~20% do ativo! Não é incomum, portanto, títulos mais longos amargarem prejuízos de 5-10% num único mês, gerando muita volatilidade no portfólio.

Aí o investidor perspicaz me pergunta: Mas VR, eu tô pouco me lixando pra volatilidade pois sei que no final do período terei obtido o yield contratado no início!

O grande erro desse raciocínio chama-se inflação. Como todo investidor deveria saber, o retorno a ser obtido por um portfolio é o retorno real de um ativo, retorno esse que está sob risco em caso de aumento significativo da inflação. Apesar da taxa nominal ser determinada no momento da compra, só saberemos o retorno real ao final do período, quando então você poderá ter menos do que investiu em termos reais.

Aí você retruca: Ok VR, mas e os títulos indexados ao IPCA? A inflação pode ir na lua e eu terei meu retorno real garantido!

Como vocês deveriam saber, taxas de inflação suficientemente altas e com prazos mais curtos (poucos anos, obrigado Major!) podem tornar as NTN-Bs com retorno real negativo por conta do IR conforme discuti em um artigo anterior. Além disso, mesmo aqueles possuidores de NTNBs continuam incorrendo num risco indireto do risco da taxa de juros que é o risco do custo de oportunidade: em caso de aumento da taxa de juros você não poderá aproveitar a taxa nova por estar travado em um título com rentabilidade inferior. Por fim, em caso de liquidação antecipada de um título o investidor tem uma chance maior de obter inclusive perdas nominais em caso de aumento da taxa.

Esse tipo de risco em particular foi recompensado em média nos EUA em ~2,5% a.a. (LT Gov - T-Bill)

RISCO DE CRÉDITO:

Como o próprio nome diz, esse é o risco que o investidor incorre pelo risco de levar o calote do pagador. Quanto mais improvável for o pagamento maior é a taxa de juros exigida pelo credor/investidor. Esse é o motivo do BNDES ter que pagar mais do que o Tesouro para se endividar e o motivo pelo qual bancos médios pagam mais que bancos grandes em taxas de CDBs/LCI/LCA.

Nos EUA esse risco praticamente não foi recompensado, com um retorno extra de 0,18% a.a. (LT Corp -LT Gov).

Quando estamos falando de renda-fixa, portanto, temos que ter claro essas duas dimensões de risco. O investidor que de forma pouco cautelosa investe em títulos de longuíssima duração (15-30 anos) sabe que está sujeito a uma volatilidade semelhante à de ações, com alto risco de perda real e bastante significativa em caso de inflação (caso não sejam atrelados a um índice inflacionário) ou aumento da taxa de juros com resgate antecipado. Da mesma forma, o investidor que compra debêntures ou CDBs em larga escala a uma taxa maior pode se ver sequer sem o principal em caso de calote do emissor da dívida.

Nos EUA o risco da taxa de juros foi porcamente recompensado com títulos com vencimento acima de 5 anos, levando grandes mestres de investimentos como Bernstein a recomendar apenas títulos curtos (1-5 anos).

Além disso, nos EUA há uma aversão da doutrina muito grande com relação aos junk bonds (dívidas podres, pense em grau máximo Grécia ou em grau menor Gafisa), alegando (não sem razão) que esses títulos possuem risco semelhante ao de ações, gerando ineficiências de ordem tributária e alocação de ativos. Há divergências, no entanto (notadamente Rick Ferri).

E no Brasil? Bem, pouco se fala de renda fixa aqui nessa terra amaldiçoada fora aqueles cálculos do tipo "Vale mais a pena fundo de investimento ou poupança?". Ridículo. Graças a nossa tributação e ao nosso sistema legal, há alguns raros "almoços grátis" a serem capturados, mas isso fica pro próximo artigo...

sexta-feira, 13 de julho de 2012

De volta às origens

Os anos se passaram, os aportes aumentaram, o tempo diminuiu e o patrimônio cresceu. Olhando o blog vi que, desde janeiro, nada aqui produzi. O último artigo sobre investimentos tem mais de 6 meses. O último artigo realmente interessante tem quase 2 anos! 

O resultado disso era óbvio: a queda da qualidade dos comentários e a atração de pessoas que nada servem além de tumultuar o blog. Já fui acusado de gigolô, fake, etc. No cenário geral, os blogs se proliferaram, mas pouco realmente foi adicionado. "Comprei R$XXXX de XXX, peguei uma mulher no bar, rumo aos XXX mil!". Pura "pornografia financeira" que nada adiciona além do instinto voyeurístico de cada um.

Resolvi, portanto, mudar. Sai o foco no meu portfólio (que ainda está descrito de forma breve acima) e nas atualizações mensais e voltam ao seu lugar aquilo que sinto que a comunidade financeira está extremamente carente: Artigos sobre investimentos e finanças pessoais que não sejam meras informações regurgitadas em outros lugares.

Que o blog seja aquilo que sempre foi no início: um lugar para discutirmos idéias e para nos motivarmos, não para medir o e-pênis de cada um e se aproveitar do anonimato para vomitar merda pelo teclado.

A discordância é não só permitida como estimulada, mas lembrem-se: estamos aqui para discutirmos idéias. QUALQUER tipo de ofensa ou comentário meramente inflamatório será fortemente moderado a partir de agora.

Para os mais curiosos, meu patrimônio estará disponível no ranking do Pobretão e minha rentabilidade no ranking do General.

Para os desconfiados, haverá prova do milhão quando chegar a hora.

Para os trolls, fodam-se.

Para os demais, sejam novamente bem-vindos para o novo velho Viver de Renda.