sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Perguntas dos Leitores - Parte II

Chegada a segunda leva, vamos às perguntas!

"Prezado senhor,

tenho ações desde 2006. Não entendo do ramo. Sempre um assessor me orienta quando devo comprar ou vender. 

em janeiro de 2012 tinha um saldo de dez mil. não sei em que estava investido. há tres semanas vi um saldo de quinhentos reais. 

Primeiramente meu assessor informou que era perda normal de ações. após eu insistir, ele disse que assume que errou, não disse quais erros, e estaria disposto a me ressarcir tres mil reais por tais erros. 

Enviei alguns extratos para um conhecido que me disse estar confuso de entender o que houve. acho que o prejuízo foi maior. 

Qual sua orientação?"

Esse é um exemplo claro do que se chama "manager risk", que nada mais é do que "merdas que podem acontecer quando metem a mão no seu dinheiro", e mais um motivo dentre tantos outros para adquirirmos o mínimo de educação financeira. 

Obviamente que para administrar uma carteira é necessário autorização da CVM, de forma que a atitude dele é completamente ilegal dando ensejo a reparação civil sem prejuízo de denúncia à CVM. Ele deve saber disso, tanto que propôs o "cala-boca" de R$3.000,00.

Sugiro você exigir do assessor a devolução imediata e total da quantia perdida. Em caso negativo, consulte um advogado para entrar com ação reparatória e proceder a denúncia na CVM. O extrato da corretora não é suficiente, peça também as notas de corretagem.

"Caro VR, qual a bibliografia básica para quem está começando a investir para acuular (sic) usando como pilar o mercado acionário?"

Não acredito que seja necessário grandes conhecimentos para se começar a investir. O livro "The Little Book of Common Sense Investing" de John Bogle é um excelente ponto inicial que ressalta a importância no controle de custos, alocação de ativos e perigos da gestão ativa do portfóilio. Para aprofundar em alocação de ativos sugiro "Asset Allocation" de Rick Ferri, é excelente. Para um entendimento melhor sobre ações sugiro "Stocks for the Long Run" de Jeremy Siegel. Esqueça análise técnica e, se possível, veja a análise fundamentalista pela "lente" dos fatores de risco de Fama & French, cujo aprofundamento se faz necessário ler o clássico paper deles "Common risk factors in the returns of stocks and bonds". Se não tiver saco para ler o paper dê uma olhada no "The Quest for Alpha" de Larry Swedroe que comenta a respeito do assunto.

"Olá VR,Sou um investidor iniciante e quero fazer minha aposentadoria não ser tão mediocre do que a que remunera a maioria das pessoas neste país.Tenho condições de fazer um aporte mensal de R$ 2000. Considerando o longo prazo, no que você me sugere que faça minhas aplicações?"

PIBB11 ou, se quiser uma liquidez maior e pagando mais caro por isso, BOVA11. Depois que tiver R$100k-150k investidos você pode pensar em investir individualmente. Portfólios pequenos e ações individuais não são uma boa pedida pois ou geram muitos custos pelas numerosas pequenas compras ou gera muita volatilidade pela baixa diversificação.

"Ola VR, gostaria de saber. Ate quando voce acha que vai durar estes altos rendimentos no setor imobiliario? Tem algum palpite?"

Prever o futuro é algo basicamente impossível de se fazer, no entanto de fato existe alguma correlação entre "valuation" e retornos futuros. A forte alta dos valores dos imóveis não é suficiente para indicativo de bolha. A bovespa subiu 82% em 2009 e nem por isso as ações chegaram a níveis "bolhosos", tudo depende do valor inicial. Uma métrica muito utilizada no Brasil é pegar o valor do aluguel e multiplicar por 200 para chegar no valor justo. Em Brasília e alguns lugares do Rio e São Paulo o aluguel muitas vezes tem de ser multiplicados por 300 a 400, indicando que o imóvel gera pouca riqueza quando comparado ao preço pago.

Veja que mesmo uma situação de bolha podem demorar anos até o estouro da mesma. Nos EUA demorou quase uma década, no Japão idem. No meu palpite (que não vale nada), estamos sim numa bolha imobiliária a ser estourada em breve (meses a até 2 anos), e o "marco zero" será o bairro do Leblon, que ostenta o m2 mais irreal do Brasil (R$15.000,00-R$40.000,00 ).